UMA ORAÇÃO JAMAIS SE PERDE

Sidney Fernandes 1948@uol.com.br

Desde os primórdios o homem sempre recorreu à divindade. Pinturas rupestres registraram súplicas de seres primitivos nos momentos de dor e de dificuldade. Com o tempo, criou-se o mito de que a morte teria o milagroso condão de tornar boas todas as pessoas. Diante dessa falsa premissa, os petitórios passaram a ser dirigidos a qualquer morto, independentemente de como fora sua conduta em vida.

***

Beatriz estava aflita, pois sua casa achava-se completamente desorganizada, seu pai preocupado e sua madrasta mostrava claros sinais de perseguição espiritual. Dirigiu um pedido de socorro, em forma de oração, para sua mãe, já falecida.

O que Beatriz ignorava é que o espírito perseguidor de sua desarvorada madrasta era justamente sua mãe, cega de ódio, por julgá-la uma intrusa em seu antigo lar.

Com as atenções voltadas para a desafeta, a mãe de Beatriz estava absolutamente impermeável aos apelos da filha. A comovedora oração, que partira daquela devotada servidora, chegou até as autoridades do espaço.

Como a mãe de Beatriz não estava em condições nem mesmo de ouvir as rogativas da filha, o impulso luminoso teve sua direção desviada para mentores que se dispuseram imediatamente a lhe prestar assistência. Esses seres luminosos chamaram o espírito protetor que conhecia bem o caso de Beatriz.

— Essa menina está passando por terríveis pressões íntimas, que sobrecarregam sua saúde e lhe provocam imensas lutas morais, em virtude da obstinada perseguição que a mãe está empreendendo contra a madrasta. Precisa de urgente socorro de nossa organização.

Embora sua prece não tivesse sido ouvida pela mãe, que se encontrava envolvida por laços escuros do ressentimento e do ciúme, Beatriz não poderia ficar desassistida.

Diante dos oportunos esclarecimentos do espírito protetor, mobilizaram-se imediatamente os círculos superiores para dar sustentação e apoio a Beatriz e à sua família, para que se restabelecesse o clima de paz naquele lar.

***

Como vemos, amigo leitor, a morte não nos torna imediatamente perfeitos. O espírito materno não se encontrava em condições de atender ao chamado da filha querida. A solicitação de Beatriz, no entanto, não se perdeu, pois encontrou guarida em altos institutos da espiritualidade. Tenhamos a absoluta certeza de que o amparo divino, ainda que por vias indiretas, jamais falha.

Referência: Entre a terra e o céu, André Luiz.

 

PEDRA NO SAPATO

Sidney Fernandes 1948@uol.com.br

O fato foi registrado numa reunião de espíritas da cidade de Bordeaux, França. Um jovem, de boa índole e educação, de repente começou a bater na mesa e a proferir injúrias, ameaçando os demais presentes. A cena durou cerca de dez minutos e chamou a atenção pelo inusitado, pois o rapaz jamais havia se comportado dessa forma. Assim que as coisas voltaram ao normal, o jovem desculpou-se, dizendo saber perfeitamente que fizera e dissera coisas inconvenientes, mas não as pudera evitar.

Situações como essa, que são atribuídas à influência dos espíritos, podem ser evitadas, quando há disciplina e controle da parte do médium. Nenhum espírito toma o controle verbal ou corporal de alguém, se essa pessoa não tiver tendência para o desarranjo. Assim, por exemplo, se um espírito quer proferir um palavrão, se o médium, em sua vida normal não tiver esse hábito, o impropério não ocorrerá. Por outro lado, uma vez aberta a porta da disciplina, dificilmente, no futuro, haverá contenção que evite cenas grotescas e chocantes. Em outras palavras, espíritos podem jogar lenha na fogueira, mas a primeira centelha é sempre do médium.

Descobriu-se, mais tarde, que o fato acima descrito teria sido provocado por um espírito brincalhão, mais disposto ao alvoroço do que propriamente fazer mal a alguém. Esse fenômeno mais incomoda do que prejudica.

***

Na minha infância, existia em Bauru um repórter chamado Oswaldo Gaspar, que mantinha a coluna Pedra no sapato, no jornal Folha do Povo. Perguntei ao meu pai o que significava aquele título e ele me demonstrou, na prática, como um minúsculo fragmento pode não prejudicar, mas pode incomodar.

Embora minha metáfora não seja das mais felizes, estou querendo dizer ao amigo leitor que alguns espíritos, não necessariamente maldosos ou vingativos, podem ser atraídos pelo terreno fértil de nossas cogitações e se divertir com nossas reações. Querem alguns exemplos?

— Hipocondríacos (pessoas que facilmente se empolgam com a ideia de doença) terão seus imaginários sintomas ampliados pelo obsessor;

— O responsável pelo fechamento do cofre de uma instituição financeira voltará várias vezes para verificar os dispositivos eletrônicos de segurança, para conferir seu funcionamento, sempre se perguntando: — Será que fechei direito?

Quem, ao sair de casa ou do carro, nunca se perguntou: — Fechei direito a porta? Apaguei as luzes? Liguei o alarme?

Espíritos podem acentuar essas manias, na medida em que permitirmos que se tornem habituais. Em outras palavras, se controlarmos devidamente nossas fobias, inseguranças, preocupações, dúvidas e temores, evitando a auto-obsessão, ficaremos prevenidos contra a entrada de pedrinhas em nossos sapatos. Ou seja: desencarnados de qualquer ordem não conseguirão explorar nossas fraquezas e não terão campo aberto para suas insinuações.

Por que estamos tratando desse assunto tão inofensivo? Afinal de contas são simples sugestões sem maiores consequências. É aí que mora o perigo.

Quando abrimos a porteira de nossas defesas, tudo pode acontecer. Se passa um boi, passa uma boiada, diz a sabedoria sertaneja.

Culpas e remorsos agravam nossos desajustes. Se não são resolvidos por completo, tornam-se verdadeiros chamarizes, não mais para pedrinhas, mas para verdadeiros blocos de espíritos que querem implantar seu domínio em nossas vidas.

***

Se o diagnóstico é importante, melhor será a descoberta da cura, estará pensando o amigo leitor. Ela está à nossa disposição, como verdadeiro guarda-chuva que nos resguarda das incômodas pedras da espiritualidade.

***

Perseguidor espiritual pretendia vingar-se de ofensas do passado, mas não estava conseguindo acesso junto ao desafeto, que repelia suas investidas com seu comportamento ajustado. Leôncio resolveu apelar para Eleutério, especialista mais tarimbado na arte de atazanar pessoas e que se utilizava de métodos sutis e eficientes.

Um demônio? Perguntará o caro leitor.

Claro que não. Apenas um equivocado filho de Deus que ainda se empolgava com a semeadura de espinhos e um dia teria que colher, em penosos reajustes.

— Identificou suas fraquezas? — perguntou Eleutério.

Sim, de vez em quando uma tristeza, introversão, preocupação com a saúde, bebe socialmente e se deixa atrair, às vezes, por encantos femininos.

— Então aproveite essas brechas — disse o especialista.

Sem resultado. Trabalha como voluntário, visita doentes em hospital público, dá plantão em instituição socorrista e vibra em favor de pessoas doentes. O homem simplesmente não tem tempo para “curtir” ideias negativas e com isso criou um verdadeiro guarda-chuva às minhas ideias obsessivas.

Eleutério pensou, pensou, com certa preocupação e enfim respondeu:

Desista!

— Como assim? — perguntou Leôncio.

Quando nossas vítimas abrem o guarda-chuva do bem, podemos lançar tempestades violentas que não são atingidas.

— O que é esse guarda-chuva? — perguntou, atônito, o obsessor neófito.

Praticar o bem e confiar em Deus é abrir o guarda-chuva indevassável. Teremos que esperar que ele feche o guarda-chuva.

***

Começamos nossa conversa com minúscula pedra no sapato e estamos finalizando com poderosa proteção que a divindade nos coloca à disposição. Daí, previnamo-nos contra as pedrinhas dos nossos sapatos, abramos o guarda-chuva dos bons espíritos e do nosso autocontrole, praticando o bem, a empatia e a solidariedade, confiando sempre em Deus.

Se nos mantivermos vigilantes, poderão vir pedras, blocos e tempestades, e nossas vidas continuarão tranquilas e produtivas.

 

Referências: Revista Espírita de 1862, Allan Kardec; Obsessão – tudo o que você precisa saber, Richard Simonetti.

PEDRA NO SAPATO

Sidney Fernandes 1948@uol.com.br

O fato foi registrado numa reunião de espíritas da cidade de Bordeaux, França. Um jovem, de boa índole e educação, de repente começou a bater na mesa e a proferir injúrias, ameaçando os demais presentes. A cena durou cerca de dez minutos e chamou a atenção pelo inusitado, pois o rapaz jamais havia se comportado dessa forma. Assim que as coisas voltaram ao normal, o jovem desculpou-se, dizendo saber perfeitamente que fizera e dissera coisas inconvenientes, mas não as pudera evitar.

Situações como essa, que são atribuídas à influência dos espíritos, podem ser evitadas, quando há disciplina e controle da parte do médium. Descobriu-se, mais tarde, que o fato acima descrito teria sido provocado por um espírito brincalhão, mais disposto ao alvoroço do que propriamente fazer mal a alguém. Esse fenômeno mais incomoda do que prejudica.

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Na minha infância, existia em Bauru um repórter chamado Oswaldo Gaspar, que mantinha a coluna Pedra no sapato, no jornal Folha do Povo. Perguntei ao meu pai o que significava aquele título e ele me demonstrou, na prática, como um minúsculo fragmento pode não prejudicar, mas pode incomodar.

Embora minha metáfora não seja das mais felizes, estou querendo dizer ao amigo leitor que alguns espíritos, não necessariamente maldosos ou vingativos, podem ser atraídos pelo terreno fértil de nossas cogitações e se divertir com nossas reações. Querem alguns exemplos?

— Hipocondríacos (pessoas que facilmente se empolgam com a ideia de doença) terão seus imaginários sintomas ampliados pelo obsessor;

— O responsável pelo fechamento do cofre de uma instituição financeira voltará várias vezes para verificar os dispositivos eletrônicos de segurança, para conferir seu funcionamento, sempre se perguntando: — Será que fechei direito?

Quem, ao sair de casa ou do carro, nunca se perguntou: — Fechei direito a porta? Apaguei as luzes? Liguei o alarme?

Espíritos podem acentuar essas manias, na medida em que permitirmos que se tornem habituais. Em outras palavras, se controlarmos devidamente nossas fobias, inseguranças, preocupações, dúvidas e temores, evitando a auto-obsessão, ficaremos prevenidos contra a entrada de pedrinhas em nossos sapatos.

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Começamos nossa conversa com minúscula pedra no sapato e estamos finalizando com poderosa proteção que a divindade nos coloca à disposição. Daí, previnamo-nos contra as pedrinhas dos nossos sapatos, abramos o guarda-chuva dos bons espíritos e do nosso autocontrole, praticando o bem, a empatia e a solidariedade, confiando sempre em Deus.

Se nos mantivermos vigilantes, poderão vir pedras, blocos e tempestades, e nossas vidas continuarão tranquilas e produtivas.

 

Referências: Revista Espírita de 1862, Allan Kardec; Obsessão – tudo o que você precisa saber, Richard Simonetti

A BONDADE DE DEUS JAMAIS FALHA

Sidney Fernandes 1948@uol.com.br

Depois da Guerra de Secessão, Henry voltou para sua casa em Nova Jersey e montou um negócio de madeiras e carvão, em sociedade com antigo colega de batalhão. Os negócios corriam bem, graças aos conhecimentos e as amizades de Henry.

Religioso, sempre orava com a família e prosseguia com seu jeito benevolente que a todos cativava e envolvia, principalmente porque contribuía generosamente com todas as causas. Um homem honesto, de fé e de boas obras.

Certa ocasião, o sócio de Henry ficou bastante zangado porque ele vendeu, a prazo, caras madeiras a um ex-companheiro de farda, Jim, que estava se estabelecendo em Nova York como empreiteiro de obras. Henry estava certo de que Jim teria êxito nos negócios e um dia o pagaria.

E então aconteceu o inesperado. O sócio de Henry desapareceu com todo o dinheiro da empresa e com a esposa de um dos moradores da comunidade. Henry cobriu o prejuízo com uma promissória, comprometendo-se a resgatá-la o mais depressa possível. Como o presidente do banco era um velho amigo, esse arranjo foi questão de algumas palavras e de um aperto de mão.

Passaram-se os anos. Por volta de 1890, sobreveio a grande depressão e Henry tinha em seu cofre mais promissórias a serem recebidas do que dinheiro. Da primitiva dívida deixada pelo sócio ainda faltava pagar 17.000 dólares. Com a morte do presidente do banco, amigo de Henry, o novo gerente passou a exigir o pagamento imediato da dívida.

Amigos se cotizaram para pagar o que deviam a Henry, mas o total recuperado era apenas uma gota no oceano. Quase todos estavam na mesma situação e não tinham dinheiro disponível.

Finalmente, chegou o último dia do prazo. Era uma hora da tarde e Henry precisava arranjar o dinheiro até às cinco.

Duas horas mais tarde, um trem entrou na estação situada do outro lado da rua, em frente ao escritório de Henry.

Jim, o seu velho amigo do exército, o empreiteiro de construções em Nova York, chegou ruidosamente, conduzindo uma pequena mala. Ao ver Henry ali sentado com a Bíblia nas mãos, deu-lhe uma tremenda palmada no ombro e vociferou:

— Henry, meu caro. Hoje, quando acabava de almoçar, comecei a pensar em você. E pensei que talvez estivesse passando por dificuldades e vim pagar a minha dívida de 20.000 dólares. Desculpe a demora e ter-lhe feito esperar todo esse tempo.

Henry olhou para a mala e para a Bíblia, levantou-se e abraçou o velho amigo.

***

Jamais nos distanciemos da reflexão, da serenidade e da oração, ingredientes fundamentais para que nossas antenas espirituais captem as sugestões, alertas e recomendações que vêm da espiritualidade maior. Tudo virá, no tempo certo, como acréscimo de misericórdia da justiça divina. Deus jamais nos abandona!

Referência: Seleções do Reader’s Digest, junho de 1948.

A PROFANAÇÃO

Sidney Fernandes 1948@uol.com.br

Morreu Maria. De repente! E João, seu marido, não tinha onde enterrá-la. De nada adiantaram os alertas de Maria para que João providenciasse um fundo mútuo funerário. Pagariam um pouquinho por mês e toda a família seria beneficiada.

Mas, João era teimoso como uma porta. E apegado, como ele só, às suas parcas economias. Além de tudo, não admitia falar no assunto morte, em sua casa.

— Estamos ficando velhos, João. E se a gente morre, para que cemitério iremos? – objetava Maria.

— A gente dá um jeito.

Agora o estrago estava feito. Túmulo da família somente na cidade em que nasceram. Distância longa, quase trezentos quilômetros. O traslado ficaria mais caro que o enterro. Molho mais caro do que o peixe.

O que fazer? O dinheiro estava curto. Só dali a duas semanas sairia a aposentadoria. No sábado à noite seria difícil comprar um túmulo, mesmo que arranjasse dinheiro. O que fazer?

Foi quando a filha – Sílvia – teve a ideia salvadora e falou, referindo-se ao marido:

— Pai, o Justino tem um túmulo. É da família dele e está vazio.

João, desesperado à procura de uma solução, balbuciou:

— Mas, será que ele nos empresta? Eu nem me dou muito bem com ele…

— Empresta sim, pai. Ele é muito bom. E também é coisa provisória, pai. Em menos de um mês a gente compra um novo para ele.

Dito e feito! Diante das circunstâncias desesperadoras, Justino não vacilou em ceder o túmulo vazio para a família da esposa. Era uma questão até de humanidade.

E seria algo transitório mesmo. Tanto é que, duas semanas depois, o sogro o procurou para adquirir um novo túmulo, a fim de restituir o que era da sua família.

Mas, nesse ínterim, já havia ocorrido um problema muito sério. A ex-esposa de Justino soube do falecimento. Foi ao cemitério e constatou o enterro do sogro de Justino no túmulo da família. Ao invés de falar com ele e resolver o problema civilizadamente, saiu procurando filho por filho, para denunciar a profanação.

Uma questão que poderia ter sido contornada civilizadamente ganhou contornos de tragédia. Bastaria um pouco de bom senso, compreensão e espírito de solidariedade das pessoas envolvidas e tudo poderia ter sido resolvido pacificamente, em poucos dias.

As palavras ferinas, a agressividade e as ameaças proferidas pela família de Justino, no entanto, provocaram mágoas que dificilmente serão esquecidas. Feridas inúteis, que demandarão muito tempo para serem cicatrizadas.

 

Diz Emmanuel que todas as vezes que nos atrevemos a nos aventurar pelos caminhos da claridade, deparamo-nos com milênios de sombras do passado. Fica difícil, portanto, controlar impulsos inferiores, a não ser à custa de muito esforço próprio, sob pena de nos entregarmos às sugestões inferiores, que nos convertem em vivos instrumentos do mal. Compreensão e respeito sempre devem nos preceder a tarefa, em qualquer circunstância, mesmo as aparentemente injustas.

 

É bom a gente colocar as barbas de molho para que o futuro não nos coloque em situações irreparáveis. A ira é péssima conselheira. Na hora da raiva fazemos e falamos coisas que depois não têm conserto. Ficam para sempre. Ponderação, prudência, vigilância e caldo de galinha não fazem mal a ninguém, já dizia minha avó.

 

 

A PROTEÇÃO DE BEZERRA DE MENEZES

Sidney Fernandes 1948@uol.com.br

Quebrangulo – Alagoas – Brasil

Na madrugada, Rosário começou a sentir as dores do parto. Era o seu terceiro filho. Francisco, seu marido, gritou para Raimundo, o filho mais velho, de oito anos, correr até a casa de Dona Bibi.

Quando Bibi chegou com seu kit de parteira, a água estava sendo aquecida e as toalhas limpas e secas já estavam separadas. A empatia entre a gestante e a parteira é fundamental para o sucesso do parto. Com a presença de Bibi, Rosário se acalmou, pois nela confiava e sabia que estava em boas mãos.

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Madison – Wisconsin – Estados Unidos

Na madrugada, Lucy começou a sentir as dores do parto. Era o seu primeiro filho. Peter, seu marido, colocou-a em seu espaçoso carro, preparado há dias, para transportá-la a Madison, a poucos quilômetros de distância de sua propriedade rural.

Pelo celular, Peter contatou a Maternity at St. Mary’s Hospital, em Madison, que imediatamente se comunicou com o Doutor Matthew Davidson, que transmitiu as primeiras providências a serem adotadas em relação a Lucy, sua paciente.

Davidson é um médico experiente, que já atendeu mais de trezentas parturientes, sempre com dedicação e profissionalismo. Sua marca principal é a empatia.  Assim que suas pacientes se aproximam dele, acalmam-se, sabendo que estão em boas mãos.

***

Rosário e Lucy começaram a sentir as primeiras contrações. O trabalho de parto de ambas se prolongou. Dona Bibi e Doutor Davidson, experientes, pressentiram que, embora a cabeça do bebê estivesse se aproximando do assoalho pélvico, talvez não ocorresse a rotação completa e não fosse possível o parto espontâneo.

Diante dos olhares significativos de Bibi e Davidson, os maridos Francisco e Peter retiraram-se dos respectivos quartos em que estavam as parturientes. Instintivamente, cada um deles começou a apelar para suas orações, pedindo a intervenção de seus protetores.

Francisco pediu para as entidades do terreiro de umbanda que frequentava. Peter, participante da Igreja Evangélica Luterana, ajoelhou-se, num discreto local, próximo da sala de espera da maternidade, e começou a orar.

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Adolfo Bezerra de Menezes Cavalcanti, mais conhecido simplesmente como Bezerra de Menezes, teve intensa vida militar, administrativa, jornalística e política. Destacou-se, no entanto, como médico, pela sua dedicação, competência, índole caridosa e disposição para atender seus pacientes, independentemente da classe social, raça, gênero ou faixa etária.

Depois de sua desencarnação, Bezerra renunciou à ascensão para planos superiores, em companhia de outros missionários devotados ao sacrifício pessoal, a fim de se consagrar ao consolo dos infelizes da Terra.

Assim é que, atualmente, falanges dirigidas por Bezerra de Menezes percorrem os mais distantes rincões do Planeta Terra, levando alívio e consolo para os sofredores de todos os matizes.

***

Dado o vigor das rogativas para obtenção de socorro geradas pelos maridos Francisco e Peter, em favor de suas esposas naquele momento crítico do trabalho de parto de ambas, as orações foram captadas pelas falanges de Bezerra de Menezes.

Equipes médicas foram direcionadas por Bezerra: uma para Quebrangulo, Alagoas, Brasil, outra para Madison, Wisconsin, Estados Unidos. Pela gravidade dos dois casos, orientadores de elevada estirpe sideral juntaram-se aos dois grupos que, na chegada, começaram a espalhar chispas de luzes, envolvendo as duas parturientes.

Assim que os raios luminosos inundaram o recinto, como por encanto, para surpresa de Dona Bibi, em Quebrangulo, e para surpresa do Doutor Davidson, em Madison, as rotações das cabeças dos dois bebês começaram a progredir, sem mesmo a necessidade do uso manual ou de fórceps.

Ao chegarem, as duas crianças, — uma à posição occipito-posterior direta, e a outra, à posição occipito-anterior direta — os partos se realizaram imediatamente

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Felizes, as duas equipes de Bezerra de Menezes partiram, como heróis anônimos e invisíveis, para as próximas missões que os aguardavam

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Ensina Emmanuel que a proteção misericordiosa estende-se a todos, indistintamente. Mantenhamo-nos, amigos leitores, com o coração livre de sombras densas, e então poderemos contar com os incontestáveis auxílios do invisível, que jamais falham em suas multiformes expressões, no momento oportuno.

CRISTIANISMO E CIDADANIA

Sidney Fernandes 1948@uol.com.br

Pitágoras, filósofo e matemático, nascido em Samos, Grécia, afirmava que o homem, sendo um ser eminentemente social, por natureza não consegue viver isolado e tende a se agrupar.

A convivência, no entanto, impõe a ordem determinada por regras de conduta. Elas se encontram nas leis do Estado e na consciência do indivíduo que pauta seu comportamento pela moralidade. Esse é o preço da coexistência: a contenção, advinda da lei e da consciência.

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Atentemos para estas recomendações de um especialista:

  • Dê o benefício da dúvida;
  • Mantenha a calma;
  • Saia da frente o quanto antes;
  • Ignore gestos obscenos;
  • Evite contato visual;
  • Não leve para o pessoal;
  • Não responda.

Estas são medidas preventivas contra a agressividade do trânsito, recomendadas pelo consultor Denis Freire de Almeida. Suas normas de contenção visam o cumprimento da lei humana e a preservação da paz social. Elas estimulam a boa convivência e a harmonia que devem prevalecer na coexistência grupal preconizada pelo sábio grego.

São sugestões muita análogas a estas, de Paulo, o apóstolo:

  • Seja paciente;
  • Seja bondoso;
  • Não inveje, não se vanglorie e não se orgulhe;
  • Não maltrate, não procure apenas seus interesses, não se deixe dominar pela ira e não guarde rancor;
  • Não se alegre com a injustiça e sim com a verdade;
  • Espere, acredite e suporte;
  • Pense, não como menino, mas como homem, pois tudo passará.

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Podemos notar, amigo leitor, que o exercício da cidadania se aproxima da espiritualização do ser humano. São precauções sociais que lembram valores defendidos pela ética, tais como tolerância, serenidade, equilíbrio, prudência, previdência e empatia.

O conceito de cidadania, embora não necessariamente ligado a determinada religião, pressupõe a convivência pacífica do ser civilizado com seus pares e a aceitação de diretrizes muito próximas do Evangelho de Jesus.

Não resistas ao mau. Se alguém quiser demandar contigo e tirar-te a túnica, deixa-lhe também a capa. Dá a quem pedir e não te desvies daquele que quiser que lhe emprestes.

— Que absurdo! — talvez dirá o caro leitor, à primeira vista, diante de atitudes que poderão lhe acarretar prejuízos materiais.

No entanto, se observarmos o ambiente hostil que às vezes encontramos no trânsito, na convivência profissional, no mundo dos negócios e, às vezes, infelizmente, no trato social ou mesmo familiar, semelhantes recomendações poderão evitar contendas, agressões, atritos com a lei e até crimes, preservando a integridade da vida humana.

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Respeitar filas, jogar lixo no lixo, não sonegar impostos, respeitar o sossego alheio, nada fazer contra o próximo, são exemplos de deveres do cidadão.

Saúde, cultura, justiça, educação e ser honestamente representado por administradores, políticos e autoridades, são exemplos de direitos do cidadão.

Deveres e direitos, no entanto, precisam ser acompanhados da espiritualização do ser humano, porquanto, na ótica do egoísmo, tudo é permitido. Na ótica da caridade, nada que agrida o ser social é admitido.

Essas atitudes, no entanto, virarão meras teorias, se não forem praticadas por todos nós e se pensarmos que somente o Estado é responsável pela preservação da paz social da humanidade. Indispensável que cada um se revista de espiritualidade e dê sua contribuição em favor de uma sociedade mais justa e mais solidária.

Encerremos com esta maravilhosa narrativa que adaptamos da obra The Law of the Garbage Truck, de David J. Pollay.

O caminhão de lixo

Muitas pessoas são como caminhões de lixo. Andam por aí carregadas de lixo, cheias de frustrações, de raiva, traumas e desapontamento. À medida que suas pilhas de lixo crescem, elas precisam de um lugar para descarregar e às vezes descarregam sobre a gente.

Nunca tome isso como pessoal. Isto não é problema seu! É dele! Apenas sorria, acene, deseje-lhes sempre o bem, e vá em frente. Não pegue o lixo de tais pessoas e nem o espalhe sobre outras pessoas no trabalho, em casa ou nas ruas.

Fique tranquilo… respire e deixe o lixeiro passar.

O princípio disso é que pessoas felizes não deixam os caminhões de lixo estragar o seu dia.

A vida é muito curta, não leve lixo com você!

Limpe os sentimentos ruins, aborrecimentos do trabalho, picuinhas pessoais, ódio e frustrações.

Ame as pessoas que te tratam bem. E trate bem as que não o fazem. A vida é dez por cento do que você faz dela e noventa por cento da maneira como você a recebe!

Fiquemos com Richard Simonetti:

Na ótica do egoísmo, não fazer acordo algum é melhor do que um acordo insatisfatório. Na ótica da caridade, um acordo insatisfatório é sempre melhor do que nenhum acordo.

 

Referências: Artigo Como se defender de motoristas agressivos, Denis Freire de Almeida; Primeira Epístola aos Coríntios, Paulo; Por uma vida melhor, Richard Simonetti; The Law of the Garbage Truck, David J. Pollay.

A MORTE NÃO É NADA

Sidney Fernandes 1948@uol.com.br

— Fulano deixou de viver!

Assim o escritor espírita Alexandre Caldini explicou, num programa de entrevistas, como, na Antiguidade as pessoas se referiam ao falecimento de alguém, para evitar a palavra morte.

— Como ter uma morte melhor? — perguntou o entrevistador.

— Tendo uma vida melhor, aproveitando o escasso tempo que temos na vida, agindo no bem, querendo o melhor e acarinhando as pessoas e cuidando do nosso próprio progresso, observando-se e conhecendo-se, em busca da melhora íntima.

— Como ser feliz?

— A vida que levamos agora influencia esta existência e, seguramente, nossa situação após a morte. Fiquei sabendo, há pouco tempo, que os torturadores do Brasil, em sua maioria, estão passando por situações muito difíceis. Por que será? Porque plantaram más sementes e agora estão colhendo os resultados. Recebemos na presente encarnação o que semeamos e, com toda certeza, também o receberemos na espiritualidade e nas existências futuras. Queremos felicidade, paz e tranquilidade? Façamos por merecer, plantemos isso desde já.

— Todos vamos morrer um dia! Isso é óbvio?

— Sabe que não é tão óbvio assim? As pessoas se esquecem, fazem de conta que nunca vão morrer. Não querem pensar na morte, dizendo que é uma coisa ruim.

— Morrer é ruim?

— Gostando ou não, todos morreremos um dia, como já morremos e renascemos uma série de vezes. Compreender isso como um fato da vida é mais do que meio do caminho andado. Discutir a morte é fundamental. Se a gente quer compreender a morte e quer morrer bem, deve aprender a lidar com a morte e com a dos demais. É bom discutir o assunto.

***

Por que as pessoas têm medo da morte?

Eis aqui alguns dos motivos principais:

– Insuficiência de informações sobre a vida futura;

Para a maioria das pessoas, a vida depois da morte representa uma ideia vaga, uma probabilidade, e não uma certeza absoluta. Com isso, elas se apegam desesperadamente às coisas da matéria, negligenciando o estudo em torno do assunto. Achando que a destruição do corpo seja o fim de tudo, o homem apega-se à vida material, não tendo plena convicção da satisfação do seu secreto desejo de sobrevivência da alma.

– Descrença da felicidade além da vida;

Acreditando que é possível alcançar a felicidade somente com práticas externas, comprá-la a preço de dinheiro, sem maiores preocupações com a reforma de caráter e de hábitos, o homem coloca todas as suas fichas no gozo dos prazeres do mundo.

– Conservação de crenças herdadas de ancestrais;

Louvado como uma das maiores obras da literatura mundial, O Inferno foi o primeiro dos três livros que compuseram A Divina Comédia, de Dante Alighieri: um poema épico de 14.233 versos, que descreveu sua brutal descida ao mundo inferior, a jornada pelo purgatório e, por fim, a chegada ao paraíso. Das três partes da Comédia – Inferno, Purgatório e Paraíso –, O Inferno é de longe a mais lida e a mais memorável.

Antes da obra de Dante Alighieri, a ideia do mundo inferior nunca havia fascinado as massas de forma tão arrebatadora. Da noite para o dia, a obra de Dante cristalizou esse conceito abstrato em uma visão nítida, aterrorizante, visceral, palpável, inesquecível.

Como era de esperar, nessa época, início do século XIV, após a publicação do poema houve um aumento no número de fiéis da Igreja Católica, graças aos pecadores aterrorizados que buscavam evitar a versão atualizada do inferno imaginada por Dante. E essa concepção ainda perdura nos dias atuais.

– Cenário sombrio após a morte;

As perspectivas oferecidas pelas religiões tradicionais não são animadoras. De um lado, o terrível inferno de Dante Alighieri. Do outro, almas sofrendo em um purgatório, esperando sua libertação nas orações dos vivos, que não têm muita boa vontade para esse assunto, pois estão preocupados com a própria salvação. Acima dessas possibilidades, resta apenas um improvável céu, restrito aos eleitos.

– Barreira intransponível entre as almas, após a morte;

Segundo as crenças tradicionais, se, por exemplo, uma família se separar, após a morte, quem for para o céu não terá acesso a quem estiver no purgatório e, muito menos, ao ente querido que foi encaminhado para o inferno. Essa crença nada tem de sedutora e mata as esperanças dos homens, levando-os a acreditar que a morte, é realmente, a pior desgraça que lhes pode acontecer.

– Morte da esperança;

A morte é cercada de cerimônias lúgubres, que aterrorizam e matam as esperanças. Temos que dar um eterno adeus aos nossos amigos que partem, sem jamais poder revê-los. O lamento maior, no entanto, é o da perda dos gozos deste mundo, sem qualquer chance de encontrar, na espiritualidade, felicidades maiores.

***

Muitos espíritas veem a morte com serenidade

A maioria dos espíritas encara a morte com esperança e de maneira serena. Por que esse comportamento é diferente do das demais pessoas?

– Informações sobre a vida futura;

A vida futura deixa de ser uma hipótese, mas torna-se uma realidade palpável. A situação das almas, após a morte, não é mais uma teoria, e sim a constatação advinda do estudo e da análise das informações e notícias trazidas por elas próprias. Esses conhecimentos não são fruto de imaginações férteis ou concepções engenhosas, mas revelações dos próprios habitantes desse mundo imaterial, que vêm nos descrever sua situação.

– Felicidade além da vida;

A certeza da vida futura dá outro objetivo à vida do homem. Não obstante lhe serem facultadas a criação e a riqueza, não considera os resultados materiais auferidos como a finalidade da sua existência, mas somente como meios com que poderá contribuir para o progresso da humanidade. O desprendimento e o desapego passam a ser os objetivos almejados.

– Revivescência dos princípios do Cristo;

O Espiritismo nos liberta das velhas crenças herdadas de nossos ancestrais. Ninguém mais está irremediavelmente perdido, pois isso não condiria com a generosidade do Deus Pai, revelado por Jesus.

Para Moisés, não haveria outra maneira de conduzir o povo hebreu senão com a adoção da imagem de um Deus punitivo, que se irava e castigava implacavelmente os que se desviassem das leis divinas.

Jesus trouxe a imagem de um Deus amoroso, que ele chamava de Pai, que perdoa e nos quer ver vivendo como irmãos. Sua mensagem pode ser sintetizada na anotação de Mateus: Tudo o que quiserdes que os homens vos façam, fazei-o assim também a eles.

Com o advento da Idade Média, a Igreja resgatou o conceito mosaico do pecado e a ideia de que os pecadores precisavam ser castigados, como forma de remir suas faltas. Além disso, foi fortalecida a ideia da ação do demônio na vida dos homens e de que, se não “pagássemos” pelas nossas faltas, estaríamos irremediavelmente condenados ao fogo do inferno.  Essa concepção foi transmitida através das gerações e chegou até os nossos dias, em que continuamos temendo os castigos de Deus.

O Espiritismo, por meio de sua visão amadurecida, nos faz observar sob uma nova ótica a questão do pecado. Lança a luz do entendimento sobre o assunto e traz conforto e esperança aos homens, que doravante apagam a noção de pecadores e passam a assumir o papel de seres em evolução.

– Cenário real;

Não mais a crença no futuro baseada em princípios contraditórios à lógica e sim a perspectiva de uma vida proporcional aos esforços que cada um venha a desenvolver para seu progresso. André Luiz, em suas treze obras que compõem a coleção A Vida no Mundo Espiritual, deu especificidade e ilustração ao pentateuco básico de Allan Kardec, mostrando com clareza didática a visão possível do cenário da vida espiritual, dentro das nossas possibilidades ainda limitadas de conhecimento. O homem encarnado passa a ter plena consciência de que o seu futuro depende da direção que venha dar ao seu presente

– Queda da barreira intransponível entre entes queridos;

Com o Espiritismo, adquirimos a certeza de encontrarmos nossos amigos e entes queridos, depois da morte. Poderia ser de outra forma? Como um pai ou uma mãe poderia ser feliz, nos planos celestes, sem a possibilidade de conviver com seu filho, localizado em regiões sombrias? A lei da reencarnação, irmã gêmea da lei de causa e efeito, nos propicia o retorno à carne, ao lado de criaturas amadas, ainda que elas tenham se distanciado momentaneamente das leis divinas.

– Renascimento da esperança;

Aí está — arremata o assunto Allan Kardec em O Céu e o Inferno —, para os espíritas, a causa da calma com a qual encaram a morte, da serenidade dos seus últimos instantes na Terra. O que os sustenta não é somente a esperança, é a certeza; sabem que a vida futura não é senão a continuidade da vida presente em melhores condições, e a esperam com a mesma confiança que esperam o nascer do Sol depois de uma noite de tempestade.

 

 

Fiquemos com este texto/oração:

A Morte Não é Nada

A morte não é nada.
Apenas passei ao outro lado.
Eu sou eu. Tu és tu.
O que fomos um para o outro ainda o somos.

Dá-me o nome que sempre me deste.
Fala-me como sempre me falaste.
Não mudes o tom a um triste ou solene.
Continua rindo com aquilo que nos fazia rir juntos.
Reza, sorri, pensa em mim, reza comigo.
Que o meu nome se pronuncie em casa
como sempre se pronunciou.

Sem nenhuma ênfase, sem rosto de sombra.
A vida continua significando o que significou,
continua sendo o que era.

O cordão de união não se quebrou.
Por que eu estaria fora de teus pensamentos
apenas porque estou fora de tua vida terrena?

Não estou longe,
Somente estou do outro lado do caminho.
Já verás, tudo estará bem.
Redescobrirás o meu coração,
e nele redescobrirás a ternura mais pura.

Seca tuas lágrimas.

E, se me amas,
Não chores mais.

                                                                           Henry Scott Holland

Fontes consultadas: Vídeos veiculados por Alexandre Caldini nas redes sociais; O Céu e o Inferno, de Allan Kardec, e Inferno, de Dan Brown.

Nota: O texto A Morte Não é Nada é a versão, em português, de parte do sermão proferido pelo cônego Henry Scott Holland na missa de morte do Rei Eduardo VII, em 15/5/1910, também chamado de Oração de Santo Agostinho, pela semelhança com uma de suas cartas escritas no Século IV.

A LUZ QUE LIBERTA

Sidney Fernandes 1948@uol.com.br

Como dobrar as cervizes de execráveis vingadores, insensíveis às dores alheias, que se projetam em seus adversários de forma odiosa e rancorosa?

Quando a imaginação humana se vê impotente, achando que os métodos persuasivos da espiritualidade se esgotaram, surpreendemo-nos com infinitas formas de convencimento, que sequer concebíamos. Fique claro que estamos falando somente de metodologias de recuperação alusivas ao planeta Terra e ao seu correspondente nível evolutivo. Imaginemos por esse universo afora…

O que fazer com espíritos que não se reconciliam e continuam desafiando as regras da vida? Que destino podem ter as criaturas que insistem em medir forças com o Criador? O que fazer com quem combate a má luta, tripudiando nos tormentos dos seus semelhantes? Que destino está reservado aos que insistem em lançar lodo e treva no caminho de seus semelhantes?

***

Antes de responder a essas perguntas, amigo leitor, quero confidenciar-lhe uma experiência de meus verdes anos de juventude. Eu assistia a uma palestra no Centro Espírita Amor e Caridade de Bauru, quando fui surpreendido com a seguinte síntese, proferida pelo orador, sobre o desamor que alimentamos em relação ao próximo:

Preocupamo-nos muito mais com a dor da nossa cutícula inflamada, do que com o câncer do nosso vizinho.

Infelizmente o absurdo dessa frase é comprovado por uma rápida observação do comportamento humano perante o seu semelhante.

***

Petrus e Joanes odiavam-se há séculos. E mesmo tendo vivenciado inúmeras e dolorosas experiências, não se reconciliavam e não se rendiam aos parâmetros divinos.

Até que ocorreu um fato inesperado aos olhos humanos, que vem corroborar a tese de que existe um imenso arsenal de convencimento nas paragens da espiritualidade.

Lembro aos que acompanham estas despretensiosas linhas, que eventuais acometimentos que envolveram nossos personagens não devem ser considerados como castigos divinos e sim frutos de suas más semeaduras.

O mentor logo percebeu os sintomas clássicos do AVC, caracterizado pela dor de cabeça, vômitos, início de dormência nos membros inferiores, por enquanto, em apenas um dos lados do corpo de Petrus. A dificuldade da visão era notória e a fala estava suspensa.

O coágulo precisava ser dissolvido ou o paciente pereceria em poucos minutos, pois a trombose localizava-se exatamente numa das artérias que irrigava o córtex motor do cérebro. A apoplexia era iminente!

Nesse ínterim, Joanes, que havia recebido a chuva de vibrações de Apolo quais chispas de luz que lhe descerraram a visão espiritual, passara a ver e a acompanhar as operações do mestre, na tentativa de salvar a vida de seu antagônico irmão, Petrus.

Imediatamente chamou para si, intimamente, toda a responsabilidade do estrago cerebral do paciente. Exatamente porque Petrus, por suas culpas, não dispunha de defesas próprias, Joanes havia conseguido penetrar profundamente em suas entranhas espirituais com suas negras emanações de ódio.

Joanes, pela primeira vez em dezenas de anos, não sentiu qualquer prazer com a dor do desafeto. Mais do que isso, passou a experimentar os mesmos sintomas do enfermo em vias do desencarne.

Era um gosto amargo que lhe provocava intensas náuseas, vista turvada, forte dor de cabeça e gradativa paralisia dos membros, embora estivesse desencarnado. O processo de xifopagia espiritual se lhe instalara com toda a sua extensão de gravidade.

 

E então aconteceu o milagre que todos esperavam:

Joanes ajoelhou-se perante todos e começou a chorar. Petrus estava morrendo por sua causa e ele estava sentindo, na própria pele, todos os sintomas que havia provocado no irmão.

Eu sei quem pode salvar meu irmão! ” — disse Joanes, lavado em lágrimas. E saiu em desabalada carreira.

***

Percebeu, amigo leitor, a extraordinária providência adotada pelos luminares espirituais? Se antes os protagonistas de nosso drama se compraziam com suas recíprocas agressões, indiferentes à dor do outro, de repente tudo mudou, quando passaram a experimentar o gosto amargo dos seus próprios remédios. Sentindo a mesma dor que provocavam em seus próximos, tomaram imediata consciência de suas atrocidades.

Mas, não é exatamente assim que a espiritualidade age, no desfiar das várias encarnações a que somos submetidos? Sofrendo os mesmos efeitos das dores que causamos, passamos a refletir e a cogitar seriamente de mudanças em nossos comportamentos.

A dor, a doença e a velhice — alertava Richard Simonetti — são enfermeiras da alma.

Que tal, amigo leitor, passarmos imediatamente a cogitar da reflexão, do perdão, da condescendência e da reparação dos males que nossa consciência teima em nos lembrar, antes que nos ocorra coisa pior? Ou vamos ficar esperando pela dor, considerando-a como única luz que liberta?

Fiquemos com Allan Kardec:

Apressa-te, pois, visto que cada dia de demora é um dia perdido para a tua felicidade.

         (Texto adaptado do livro SOB A LUZ QUE LIBERTA, de Sidney Fernandes)

A HORA E A VEZ DA ESPIRITUALIDADE

Sidney Fernandes 1948@uol.com.br

Não desanimemos na prática do bem, pois, se não desfalecermos, a seu tempo colheremos.

Paulo, Epístola aos Gálatas, 6:9

SAÚDE: NO SENTIDO MAIS AMPLO

O pensamento em harmonia com a Lei de Deus. Doença é o processo de retificá-lo, corrigindo erros e abusos perpetrados por nós mesmos, ontem ou hoje, diante dela.

Instruções psicofônicas, Mensagem de Lourenço Prado, Francisco Cândido Xavier

SAÚDE: NO SENTIDO MAIS RESTRITO

O reflexo da harmonia espiritual. A escravidão aos sintomas e aos remédios não passa, na maioria das ocasiões, de fruto dos desequilíbrios a que nos impusemos.

Falando à Terra, Mensagem de Joaquim Murtinho, Francisco Cândido Xavier

 

Richard Simonetti nunca deixou de compartilhar a intuição de que havia sido sacerdote e médico, em vidas anteriores. Com efeito, seus dons inatos, corporificados na extraordinária capacidade de comunicação, na fluidez do verbo e na objetividade das preleções, bem atestavam as reminiscências do célebre tribuno.

Outrossim, sua escrita sempre foi fluente e agradável, esmerando-se em escrever fácil os difíceis conteúdos de que tratava e esmiuçava, firmando um estilo simples, despojado, bem-humorado, com o intuito de trocar em miúdos a Doutrina Espírita, colocando-a ao alcance de qualquer leitor.

Nesse contexto, destacavam-se os textos relacionados com a medicina, não apenas da alma, mas também do corpo físico, discorrendo sobre a saúde humana e suas intrincadas nuances, com a maestria de quem era catedrático no assunto.

Prova disso encontramos facilmente, ao desencravar, dos idos de 1963, o primeiro texto que Richard remeteu para a Federação Espírita Brasileira e que foi publicado pela Revista O Reformador, em abril daquele ano: Medicina Pioneira, foi o título do artigo.

Nele, enfocava um médico que orientava uma paciente quanto à necessidade de mudar sua postura diante da vida, a fim de superar problemas existenciais e físicos que a infelicitavam.

À par de sua extraordinária lavra de sessenta e cinco livros[1], entre dissertativos, romances, histórias e séries — de O Livro dos Espíritos e de O Evangelho Segundo o Espiritismo —, seguiram-se textos e palestras em que, volta e meia, Richard derrapava para a área médica, como por exemplo:

“Cérebro – Agente ou Gerente do Espírito? ”, “Dinâmica do Perdão”, “A Saúde da Alma”, “O Plano B”, “Mudança de Rumo” e “Depressão – Uma História de Superação”, só para citar os mais conhecidos.

Contando com extraordinária memória, cultura geral e doutrinária, Simonetti também se abeberava, naturalmente, nas obras clássicas da literatura espírita, lastreando suas lucubrações em sólidos princípios doutrinários, ora oriundos de Allan Kardec e seus imediatos seguidores, ora oriundos da psicografia de Francisco Cândido Xavier.

***

Corpo: reflexo da alma

Aprofundando conhecimentos de sábios milenares que, dentre outras conclusões, já defendiam o Mens Sana In Corpore Sano, do poeta romano Juvenal, o Espiritismo vem reiterar que a saúde do corpo é apenas um reflexo da saúde da alma.

Dependendo dos olhos da nossa alma[2], isto é, como administrarmos as coisas da vida, nosso corpo terá luzes ou sombras, saúde ou doença. A calma e a resignação hoje são consideradas como fatores fundamentais, tanto para a saúde do corpo, quanto à do espírito, assim como a inveja, o ciúme, a ambição e outras doenças do espírito, são fatores desestabilizantes do organismo físico e do psíquico humano.

Ensina-nos, ainda, a Doutrina Espírita[3], que a cólera, a intemperança e os excessos de todo gênero, atingem igualmente, tanto nosso corpo espiritual, quanto nosso corpo material. Assim como a fraqueza orgânica nos torna mais susceptível às más influências espirituais, o processo

[1] Sessenta e cinco livros em vida, pois seguem-se as edições post-mortem de títulos inéditos.

[2] A candeia do corpo são os olhos; de sorte que, se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo terá luz;
Se, porém, os teus olhos forem maus, o teu corpo será tenebroso. Se, portanto, a luz que em ti há são trevas, quão grandes serão tais trevas! –
Mateus, 6:22-23.

[3] O Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec.